19 de março de 2013

A chuva em nossas infancias


Na minha mais longínqua infância, quando tinha entre 10 e 15 anos, sempre no verão gostava de tomar chuva na rua. Podia ser chuva de verão, garoa, chuva fria, não importava. A ordem era se divertir e refrescar, mesmo quando passávamos frio e sujávamos as roupas. Para desespero das mães.

Fazíamos represas nos meio-fios, apostávamos corridas com folhas de árvores nas correntezas que se formavam, construíamos não apenas castelos, mas gigantescas cidades nas areias das construções. Andávamos de bicicleta nos terrenos baldios, era lama da cabeça aos pés. Isso levava minha mãe a loucura e meu lombo debaixo do chinelo dela.

- Pô mãe, ta o maior calor e todo mundo foi, eu ia ficar de fora?

A turma era constituída geralmente por mim, o Tavinho, Andrézinho, Ronaldo (popozão) e o Gui. Mas de vez em quando entravam os mais velhos, Rômulo (Camelo), Rodrigo, Polaco, Digão e o Boca. E às vezes a molecada da rua de cima entrava na dança também. Bons tempos no jardim San Remo, o mesmo onde foi roubada minha bicicleta uma vez. História para outro dia.

No domingo passado começou a chover. E como tem feito um calor dantesco, não resisti, peguei minha bicicleta e fui sozinho. Não tenho mais contato com nenhum colega daquela época. E por um breve e mágico momento me senti novamente com 10 anos de idade. Nessa hora a chuva começou a engrossar, o vento aumentou, começou a escurecer. Cheguei em casa exausto, todo encharcado, enlameado e passando frio, mas muito feliz.

A experiência só não foi mais revigorante porque não tinha os amigos do meu lado. Enquanto andava, não via o Tavinho com a cara toda suja de barro, o popozão com a camisa branca cheia de lama choramingando que mãe dele ia matá-lo. Mais do que se refrescar na chuva, hoje eu percebo que a amizade estava acima de tudo, o divertimento era maior devido a quem estava do nosso lado e a descoberta de coisas novas.

Guilherme Palma
*Texto publicado em 24/11/2009

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