25 de novembro de 2020

Adeus Maradona e muito obrigado.

O mundo hoje perdeu Diego Armando Maradona. Talvez a juventude atual não de muita importância a esse fato. Essa geração que acha que o futebol começou nos anos 2000. Essa geração que hoje acompanha mais o futebol europeu que o brasileiro. Que despreza a seleção brasileira. Claro, é um direito deles não torcer pela nossa seleção e isso não torna ninguém menos patriótico. Mas a história deve ser preservada e lembrada sempre.

Aí você me pergunta que diabo tem a ver a morte do Maradona com a seleção brasileira? Simples. Após a entrada de 'Don' Diego Maradona no cenário futebolístico a história das duas seleções, até então com uma rivalidade muito acirrada, se tornaram inexoravelmente ligadas. Uma relação simbiótica praticamente. Provoca discussões entre qual jogador foi melhor; Pelé ou Maradona. Discussão que se estendeu para outros esportes. Até sobre se o vinho e churrasco deles são melhores que o nosso.

Existe um ditado que diz que os brasileiros adoram odiar os argentinos e os argentinos odeiam amar os brasileiros. Pois apesar deles serem orgulhosos, e parecerem arrogantes, eles adoram os brasileiros. São muito parecidos conosco em muitos aspectos. Como nós, eles são um povo que passou por muitas provações e hoje passam pela que pode ser a maior de sua história. E o futebol sempre foi uma paixão nacional. Uma alegria nos momentos de grande dificuldade.

E ninguém representa melhor essa relação de amor e ódio que Maradona. Sempre foi polemico dentro e fora dos campos. Briguento irritava jogadores, árbitros e técnicos. Dava entrevistas onde ofendia rivais e torcedores. Como na vez que pediu aos torcedores do Napoli, onde era idolatrado, para que torcessem para a Argentina ao invés da Itália. Sempre pegou no pé dos brasileiros.  Pelé foi o maior alvo de inúmeras criticas e ofensas. Mas ainda assim em mais de uma ocasião se rendeu ao talento de Edson Arantes do Nascimento. Quando Pelé era internado por conta de algum problema de saúde Maradona era o primeiro a desejar recuperação. Carinhos e preocupação recíprocos por parte do Rei, que há alguns dias desejou força para o argentino quando este teve de fazer uma cirurgia as pressas.

Ao mesmo tempo em que polemizava com os brasileiros, ele sempre admitiu sua admiração pelo nosso futebol. Nunca escondeu sua idolatria por Roberto Rivelino, se rendeu ao talento de Ronaldinho Gaúcho e em uma das cenas mais marcantes que presenciei foi quando a Argentina derrotou o Brasil na Copa de 1990. Ao invés de comemorar a vitória com os companheiros ele foi abraçar e consolar Careca que era companheiro de time No Napoli: “Não poderia demonstrar alegria ao ver um amigo tão triste”. Respondendo ao repórter sobre ter ficado sério após a vitória.

Eu tinha seis anos em 1986, copa do México. Foi minha primeira lembrança marcante de futebol e Copa do Mundo. E o que vi me deixou de boca aberta. Maradona entrou na competição jogando que nem um demônio que ia varrendo os adversários. Eu já gostava de futebol ali. Mas então fiquei fascinado e queria jogar que nem aquele baixinho invocado. Apesar de Pelé em 58, Garrincha em 62, Romário em 94 terem sido fundamentais para a conquista, Maradona foi o que chegou mais perto de ser um jogador que ganhou uma copa do mundo sozinho. Pois as seleções de 58 e 62 eram um esquadrão, a de 94 era um time muito unido e bem treinado. A Argentina de 86 nem tanto.

E se engana quem pensa que Maradona é somente a copa de 86. Ele fez história com a camisa do Napoli. Um time tradicional, mas pequeno. Seus troféus resumiam-se a títulos nas divisões inferiores e a duas conquistas na Copa da Itália. Em seis anos ele conquistou Copa da UEFA – 1989, Campeonato Italiano – 1987-1990, Copa da Itália em 1987e Supercopa da Itália em 1990.Conquistou títulos por Boca Juniors e Barcelona onde teve uma curta e polemica passagem. E teve a copa de 90 onde ajudou a Argentina a ser vice-campeã. Não me esqueço do já citado jogo contra o Brasil. Maradona estava com o tornozelo inchado, mas ainda assim enfileirou vários brasileiros e deixou Caniggia na cara de Taffarel, que só teve o trabalho de driblar o goleiro e fazer o gol da doída eliminação.

Maradona foi um gênio. Um anjo endiabrado. Uma maravilha do mundo da bola. Uma coisa rara que não sei quando e se teremos o prazer de ver algo semelhante novamente. Não foi melhor que Pelé. Mas foi o melhor que veio depois. Cruyyf, Zico, Romário, Ronaldo me desculpem, mas o impacto que o argentino causou ainda não foi igualado. Escrevo isso tudo com lágrimas nos olhos. Adeus Maradona e muito obrigado.

Guilherme Palma

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