Estava
parado no sinaleiro com o sol á pino. O carro não tinha ar condicionado. Eu
suava em bicas. Mudava de estação no rádio, esperando encontrar alguma musica
audível. Vociferava comigo mesmo por ter esquecido de pegar algum CD em casa.
Contentava-me, mesmo por não ter outra opção, com uma rádio que tocava Bee
Gees, ABBA e musicas do gênero.
Coço a cabeça, bocejo, olho para o cara do carro ao meu lado e ele esta cutucando o nariz. Deveras desagradável essa cena. Uns três motoqueiros se engalfinham para tomar a dianteira do meu carro. Ficam acelerando como se estivessem num rali. O barulho quase dilacera os meus ouvidos. Tinha vontade de pegar esses motoqueiros, amarrá-los sob o capô do meu carro e ficar acelerando e buzinando o dia inteiro, para nunca mais fazerem isso.
Um caminhão passa despejando tanta fumaça pelo escapamento, que eu acredito que minha expectativa de vida reduziu pelo menos um ano, devido à quantidade de fumaça que inalei.
Uma
senhora me oferece balas de goma. Duas por um real. Aceno que não com a cabeça,
lamentando não ter uma moeda e nota sequer (era verdade, juro). Ela se afasta
resmungando. Fico pensando nas injustiças dessa vida e como seria viver em um
mundo sem advogados. Acho
que não veria cenas deprimentes como essa.
Na calçada passa uma mulher muito interessante. 1,70m de altura pele bem clara. Olhos verdes suaves, cabelos um pouco abaixo dos ombros, lisos, claros, quase loiros. Tênis branco, calça jeans, camiseta branca. Uma bolsa a tiracolo. Cerca de 35 anos.
Seu olhar se cruza com o meu. Muito séria. Do tipo comprometida ou do tipo que não da mole para qualquer um. Ou pior ainda, do tipo que me achou um ‘mané’. Fiquei até constrangido com o olhar, poderia congelar um lago. Mas eis que ela olha para trás, em minha direção. Nossos olhos se cruzam de novo. Dessa vez parecia diferente. Ela segurou mais tempo o olhar. Foi impressão minha ou ela esboçou um sorriso?
De repente eu pulo assustado com um barulho de buzina do carro de trás. O sinal estava verde. Tenho a impressão de que o motorista xingou até a quinta geração da minha família. Lembro-me dos motoqueiros amarrados sob o capô (na minha imaginação) e acrescento esse motorista apressadinho.
Enquanto ando procuro por todos os lados a mulher, mas já tinha desaparecido. Sumido com seu olhar sério e enigmático. Será que ela tinha sorrido mesmo? Afinal de contas, acho que não entendo muito de olhares femininos.
Sempre que posso, passo nessa mesma rua, nesse mesmo semáforo, mas nunca mais a encontrei.
Guilherme Palma
*Publicado originalmente em 11/05/2009
*Publicado originalmente em 11/05/2009
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