2 de setembro de 2013

Uma noitada em Santo Amaro

O ano era 1999 sabado à noite, eu tinha 19 de idade. Estávamos eu e o Gil andando de carro sem destino. Entediados com os lugares de sempre para sair e das mesmas pessoas. Decidimos ir a Cambe, uma cidade na região metropolitana de Londrina. Imaginávamos encontrar algumas pessoas diferentes e quem sabe meninas menos esnobes e alvoroçadas com rapazes de fora.

Demos com os burros n’água. A avenida estava deserta. Todos estavam em Londrina em alguma festa que estava acontecendo. Fora de cogitação. Estávamos sem grana para os convites, somente para algumas cervejas no máximo. No caminho de volta desviamos um pouquinho e entramos em Santo Amaro, um bairro grande de Cambe um pouco mais afastado do centro da cidade.

Nos surpreendemos com o movimento. A avenida bem iluminada com muitas pessoas andando e algumas moças bem bonitas. Conversando aqui e ali ficamos sabendo de uma festinha em uma boatinha. Chegamos ao local. Era uma chácara onde o proprietário pegou a área da churrasqueira e fechou as laterais com lona preta. Colocou um globo, iluminação e um bar. Ao fundo um DJ comandando uma pick-up com os maiores sucessos que estava tocando nas rádios.

Três reais para entrar, para mim um absurdo. Eu e o Gil nos entreolhamos, a noite estava perdida mesmo. . Pegamos uma lata de cerveja cada um e ficamos ali observando o movimento na pista de dança. O som estava a toda, de repente o DJ começou a baixar o volume para dar um recado. Eu brinquei com o Gil que só faltava começar o bingo. Mas a realidade era pior.

PUTZ, PUTZPUTZ, PUTZ, PUTZPUTZ...

Aí galera o negócio é o seguinte. Tem uma mina aqui que... ó é o seguinte... A mina menstruou galera. A mina menstruou e vai precisar de um absorvente. Se alguma mina tiver aí para emprestar, traga aqui.

PUTZPUTZ, PUTZ, PUTZPUTZ, PUTZ...

Eu virei para o Gil e perguntei para ele o que tinha acontecido. Ele ainda atônito olhou para mim e antes que pudesse falar alguma coisa.

PUTZPUTZPUTZ, PUTZ, PUTZPUTZ...

- Aí galera, o papo é serio. A mina menstruou mesmo e precisa de um absorvente. Se alguma mina puder trazer aqui para mim. Valeu galera.

PUTZPUTZ, PUTZ, PUTZPUTZPUTZ...

Sem duvida o próximo passo era ir embora, mesmo porque nesse exato momento uns tipos que estavam nos encarando já há alguns minutos nos abordaram.

- Ai pleibozada, cês são de Londrina, né? O que tão agitando aqui?
- Nada não. Só estávamos procurando um primo meu. Disse o Gil já quase que correndo para a saída e me puxando.

Do lado de fora o pau tava quebrando. Dois caras se pegando no soco e uma garota com um cabo de vassoura tentando bater na cabeça de um deles, só que acabava acertando os dois. Já tinha uma roda em volta ovacionando. Do outro lado da rua tinha uma viatura com dois policiais que fingiam que não viam nada. Estavam passando uma cantada em duas garotas.

Entrei no carro dei partida e saímos rápido dali. Ainda deu tempo de ver um cara com uma faca na mão indo para cima da roda onde acontecia a briga. Quando deixei o Gil na casa dele falei que dali em diante quando não tivesse nada para fazer ou estivesse sem dinheiro, alugaria um filme e abriria uma garrafa de vinho barato.


Guilherme Palma
*Publicado originalmente dia 28/09/2010

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